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Mostrando postagens de junho, 2018

Shabat

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O dia corre do lado de fora.  Máquina de lavar parece adivinhar que o sol já chegou com cara de 'indo'. Bate histérica as roupas brancas, antes que o dia fique cinza. O rapaz só teve tempo de tomar um café e sair correndo pra o compromisso. O relógio o encarava impaciente, como um inspetor de escola ao aluno que dormiu demais. Até os pássaros hoje estão cantando como 'magicicadas' (aquelas cigarras norte-americanas que saem juntas do chão pra alguns dias de canto ensurdecedor, acasalamento e postura de ovos). Estão esbaforidos e estridentes hoje os pássaros. Devem ter passado as férias de verão com as magicicadas.  Há também martelo e furadeira trabalhando nas paredes vizinhas que fazem nossa divisão. No caso, os homens é que encaram impacientes o relógio. Os homens querem terminar logo o trabalho e, na velocidade que vão pra deixar pra trás e dar tchau pra o relógio, até dá pra confundi-los com suas máquinas.  Também têm crianças correndo

Pequena Mala de Amanhecer

Ela cresceu ouvindo histórias de gente que perdeu tudo e recomeçou. Leu uma vez que 'nunca se é velho demais pra sonhar' e fazer acontecer uma vida diferente. Conviveu com pessoas das quais perdeu-se e, em reencontrando-as, já eram outras; reiniciavam-se sempre. E ela acreditava nisso. Acreditava que a vida adulta era uma continuidade da sua infância, infância em que cada dia podia ser a adulta que quisesse: médica na segunda-feira, jogadora profissional de 'taco' na terça-feira, campeã de pique-esconde na quarta-feira, escritora e conferencista com microfone de controle remoto na quinta-feira, musicista na sexta-feira, coveira de formigas no sábado e santa no domingo. (Reiniciar é tão fácil na infância; talvez por isso crianças não sofram os términos desde antes de acontecerem, como adultos fazem quando conseguem começar algo. O dia acaba, mas sempre tem um novinho, cheio de possibilidades e belezas). Pra ela, o mundo todo, com suas coisas todas, era seu; e todas