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Mostrando postagens de janeiro, 2018

Reencontros, Úteros de Renascer

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O ano finda com reencontros. Reencontrar quem a gente ama nos ajuda a lembrarmo-nos quem a gente, de fato, é. Reencontrar pessoas que fazem parte da constituição de nossa alma é uma volta a nós mesmos. Pois, se tem uma coisa que a vida sabe fazer bem, é levar-nos para longe de nós mesmos. No disparar dos ponteiros, a gente corre tanto atrás do que nem sabemos bem, que deixamos a nós próprios lá no passado, no lugar em que o chronos começou a ditar o ritmo da vida. Porque a alma não mede a vida com ponteiros e números, mas com momentos. A alma sente, por isso avança. É pelo sentir que ela sai do lugar. Não de segundo em segundo, mas de sentir em sentir. Por quê a gente se sente em casa dentro dos abraços que a distância acumulou? Penso que é porque a alma mora onde o sentir é mútuo. A alma sabe, embora por vezes prefira ignorar, que deve lançar alicerces ou ancorar somente onde há verdade. Há encontros de alma que se tornam verdadeiros marcos de nós

Sonhos em Agualusa

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Leio Agualusa* e termino com vontade de continuar.  Há autores  que não queremos largar mais. Um livro inteiro sobre sonhos. Sonhos que cada um tem e que, no fim, todos sonham juntos. Pus-me a pensar a respeito... Não entendo muito de sonhos e entendo só um pouco de  realidade, vivo quase sempre sem entendê-la o suficiente. Mas falar de sonho pra mim é coisa difícil, mais do que de vida real. Agualusa diz que ‘os sonhos são o que temos de mais íntimo’ e que ‘a intimidade é assustadora.’ Talvez seja isso, talvez por isso eu não sonhe tanto. Acho que a gente foge é da realidade quando vive sonhando. Mas não tem jeito, ela sabe impor-se. Tarefa difícil deve ser essa de manter-se sonhador. A vida não desiste de tentar exaurir os sonhos de quem sonha. Leio livros para aprender a pensar a vida de um jeito mais leve. Ela é, por vezes, ácida e insustentável. Leio para olhá-la e não ver dela apenas nudez e crueza. Leio para ganhar olhos que

Sobre Adiamentos

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Há que se ter cuidado com os adiamentos. Há os necessários, mas costumamos confundi-los todos. Por vezes não raras maquiamos o hoje na ilusão de que o rosto real não terá feito rugas quando descoberto amanhã. Dores são inadiáveis. Não há verniz que esconda para sempre as marcas da dor que nos negamos a tratar hoje. A dor negligenciada no hoje, por mais simples que pareça, pode tornar-se intratável num amanhã que parecerá um quartinho de bagunça que não comporta mais tantos adiamentos. Fiquei quase 4 horas no pátio de espera, um pátio semi coberto, (metade sombra, metade luz). Eu também não era inteira sombra, nem inteira luz. A luz pura consegue até cegar. Mudando as doses a luz é multi útil. Li um livro inteiro sob a luz daquele sol. Sentou-se ao meu lado uma velhinha de 99 anos, o que ela fez questão de contar-me orgulhosa. A iminente, e eminente, centenária tem orgulho dos anos que acumula e até dos danos que a trouxeram ao hospital pra trocar curativos diariament

Grãos de Terra, Partículas de Céu

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Dia desses dizíamos em uma conversa que nosso corpo, quando  cansado ou doente, pende para baixo. O pó que somos quer voltar  para a terra de onde veio.  Hoje por várias vezes desejei, ou o pó de  mim desejou, abraçar-me pela raiz. Quis voltar ao estado de  semente de terra, grão de areia por germinar. Falávamos sobre a importância de diminuirmos o ritmo a fim de não deixarmos os outros para trás. Hoje penso que, igualmente importante na jornada, é ter (e ser) gente que estimule o outro a ir além do que acredita conseguir. Gente que não alimenta em nós a fome de voltarmos ao pó. Gente que sabe e nos mostra quantas vezes forem necessárias que dentro desse corpo que, exausto, pende pra o chão, há um espírito livre que existe para voar. Um espírito que pende para o alto e que só descansa e se refaz nas  asas do vento. Somos grão, mas somos também ar. Sementes de vento, partículas  de céu. Devemos, claro, conhecer nossos próprios limites; afinal, descansar