Deus é Amizade

"- Mestre, onde é que o senhor mora?
- Venham ver! - disse Jesus.
Então eles foram, viram, e passaram o dia com Ele."
(Evangelho de João, cap 1)



Continuando nesta caminhada até o coração de Jesus junto com João, mais uma característica do Cristo me salta aos olhos. Vimos Jesus como o caminho de volta ao coração de Deus; Mais adiante vimos, em Jesus, o Deus que decidiu revelar-se ao homem, criatura sua; e agora, mais uns passos adiante nos relatos do discípulo amado, encontramos um Deus relacional. Sim! Um Deus que não apenas quis revelar-se, mas um Deus que quis revelar-se de maneira íntima e pessoal, a cada homem, em toda a terra.
Mas como seria possível para o homem, mortal e limitado como é, relacionar-se com o "EU SOU"? Como poderia aquele bonequinho de barro ter por amigo o Eterno, seu Criador? Como poderia aquele de quem a vida tem a consistência e duração de poeira e de fumaça, relacionar-se intimamente com Aquele que contém em si todas as coisas que existem, e só por isso elas existem (e nada, nem pode existir fora dEle)? Como poderá segurar nossas mãos aquele que, de tão grande, não cabe nem em nosso mundo inteiro? Incrível pensar que, vistos da eternidade, somos menores que as menores formiguinhas. E, mais incrível ainda é pensar que o Deus que sustenta o globo terrestre na palma de sua mão, a estende pra segurar nas nossas mãos e chamar-nos amigos seus.
E tudo isso só é possível porque Ele diminui-se para caber em nosso mundo. Fez-se homem para alcançar os homens. Fez-se carne para sentir a dor que o homem sente em sua carne. Fez-se menino a fim de ter mãos que cabem no mundo dos homens, porque Ele quis mais do que 'apenas' sustentar nosso mundo, quis guiar-nos pelas mãos.
C. S. Lewis certa vez disse: "A amizade nasce no momento em que uma pessoa diz para a outra: O que? Você também! Pensei que eu era o único". O relacionamento íntimo começa na identificação das afinidades. E ele é preservado pelo amor gerado nos encontros e continua, apesar das muitas diferenças. Mas a afinidade é o que nos faz abrir as portas de nossa 'casa', de nossa vida.Em Jesus, Deus estava dizendo que o ideal dele é a amizade do Éden. O Deus que encolheu-se a fim de adentrar nosso mundo, estava dizendo que, por menores e mais vis que a queda tenha nos tornado; que, mesmo ficando cada vez mais diminuídos em nossa "serhumanidade" a medida que corremos apressadamente pra longe Dele... Ele ainda cabe em nosso mundo! Suas grandes e poderosas mãos podem ser tocadas por nossas pequenas e trementes mãos; nosso pecado, que nos diminui, aprisiona e bestializa, nada pode contra o sangue do Deus que 'morreu' em nosso lugar; nossa morte, justa e merecida, morreu quando Ele ressuscitou!
Ele não veio vestido de glória, não veio em carruagem real, não nos trouxe uma informação a respeito de Deus e se foi. Ele se despiu de sua glória, veio como homem a fim de interagir com o homem, no mundo dos homens. Ele, que é a própria sabedoria, limitou-se a fim de falar a nossa língua, coisas que todos entenderíamos. Fico pensando que, se nos constrangemos na presença dos 'poderosos' desta terra, como seria se o Deus Todo-Poderoso se apresentasse a nós na plenitude de seu poder e glória? E, se em presença de alguém mais culto e dotado de conhecimento que nós muitas vezes ficamos "boiando" na conversa, como seria se a própria sabedoria se apresentasse a nós em sua plenitude? Seria simplesmente impossível. Mas, Ele nos conhecia e estava nos seus planos fazer-se conhecido por nós.
O Deus menino; o Rapaz - filho do carpinteiro de Nazaré; o jovem Jesus - tão sensível às mazelas dos homens; o homem que chora a morte de seu amigo e o sofrimento terrível de suas amigas; o Cristo de Deus; o Salvador do mundo... passa pela sua e pela minha rua nos convidando para a maior aventura e honra que um homem pode ter na vida: ser amigo de Deus e ter Deus por amigo. Se estamos curiosos a seu respeito, ainda que não acreditemos que isso seja possível, Ele gentilmente nos oferece a incomparável oportunidade: Vem e vê! Você creu e admirou-se ('Filipe') porque eu disse que te vi embaixo daquela árvore, mas em me seguindo e conhecendo, você verá coisas muito maiores do que tudo que já viu - verá os céus testemunharem a meu respeito! Prazer, sou o Ungido de Deus, e teu amigo!
A pequena mão do bonequinho de barro segura na grande e poderosa mão estendida, que encolheu pra caber em seu mundo...
E, apaixonada amizade do Jardim começa pra mais um bonequinho de barro, que estava perdido, mas foi encontrado.
A amizade com o Filho lhe revelará o coração do Pai.
("pois quem me vê a mim vê o Pai", Jo. 14)  

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